O que ainda não sabíamos sobre acabar com a fome no Brasil e no mundo

O que ainda não sabíamos sobre acabar com a fome no Brasil e no mundo

Erradicar a fome: alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável.

por Kátia Bagnarelli, jornal Onews e Cristina Sambado – Repórter da RTP – Nova York

 

 

A fome extrema deve aumentar em mais de 20 países nos próximos meses, alerta a Organização das Nações Unidas (ONU), a partir do que revela o relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e do Programa Alimentar Mundial (PAM).

A FAO e o PAM acrescentam que mais de 34 milhões de pessoas no mundo “lutam com níveis alarmantes de fome extrema”. 

Esse número pode aumentar drasticamente nos próximos meses se a assistência internacional não for ampliada, acrescenta o relatório, de 37 páginas, divulgado pelas duas agências que têm sede em Roma.

Apesar de a maioria dos países afetados ser africana, a fome pode aumentar vertiginosamente na maioria das regiões do mundo, incluindo o Afeganistão, a Síria, a Líbia, o Haiti e a América Latina.

“O sofrimento é alarmante”, alerta o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, em comunicado. “Temos a responsabilidade de agir agora e rapidamente para salvar vidas, salvaguardar meios de subsistência e prevenir que a situação se agrave”.

O representante da FAO lembra que “em muitas regiões, a época do cultivo está começando e devemos correr contra o relógio para não deixar fugir esta oportunidade de proteger e até mesmo aumentar a produção local de alimentos”.

“Uma catástrofe ocorre perante os nossos olhos”, afirma o diretor da WFP, David Beasley. “A fome – impulsionada por conflitos e alimentada por alterações climáticas e pela pandemia de covid-19 – bate à porta de milhões de famílias”.

Para David Beasley, há três formas de impedir que “milhões morram de fome: a suspensão dos combates; o maior acesso às comunidades vulneráveis e o aumento das doações”.

No início do mês, a FAO e o PAM pediram US$ 5,5 bilhões para evitar a fome, por meio da assistência alimentar humanitária e intervenções urgentes de subsistência.

O relatório conclui que “a América Latina vai ser a mais atingida pelo declínio econômico e a recuperação será mais lenta.” 

Nós levamos a discussão à entrevista exclusiva que o jornal Onews promoveu com Reginaldo Morikawa, CEO da Korin Agropecuária, Korin Franquia e Korin Messiânica Alimentos. O executivo elencou os motivos e soluções para, juntos como humanidade, resolvermos o problema. A seguir, seu posicionamento na íntegra.

“Quase 1 bilhão de pessoas no mundo tem algum tipo de problema de segurança alimentar. Quando falamos sobre a possibilidade da agricultura orgânica ter condições de suprir a alimentação do mundo, temos que entender que nenhuma agricultura hoje consegue fazer isso. 

Esta é uma atribuição que o próprio modelo atual não tem. Isso quer dizer que para abordarmos este assunto precisamos usar três academias, três níveis de ciências que nos darão condições de entendermos a fome no mundo. 

A primeira ciência é a produtiva. A ciência produtiva diz que conseguimos, num hectare transgênico produzir até 13 toneladas de milho. Quando falamos em orgânico conseguimos produzir 6 t/ha (tonelada por hectare). Se usa atualmente esse número para dizer que o orgânico não terá condição de alimentar o mundo, mas por outro lado, quando se fala em hortaliças nós produzimos 120 mil pés de morango por ano e ele nos entrega cerca de 800 gramas por pé de morango. Um pé de morango convencional nos dá em torno de 900 gramas, veja então que não há muita discrepância nesse sentido, entretanto é algo que será cada vez mais observado daqui para frente. 

A segunda academia que não podemos descartar quando falamos sobre a fome no mundo está no modelo nutricional existente. Uma coisa é comermos massa, fibras, a outra coisa é nos alimentarmos de micronutrientes. 

A indústria da cana foi um grande case. Antigamente eles compravam aqueles treminhões cheios de cana. Os produtores então começaram a produzir variedades de cana que davam folhagem, que davam massa, uma cana que não tinha sabor, não tinha um bom caldo, não tinha nutrientes, princípios ativos ao final, a sacarose. 

A indústria começou a perceber que cada vez pagava-se mais tonelagens, mas que recebiam menos álcool, menos açúcar na saída da Usina.

A partir dali perceberam que não é o volume que alimenta, não é volume que gera algo, mas sim a qualidade daquele alimento específico, em nosso caso aqui, a cana. Começaram então a pagar pela quantidade de nível de sacarose presente e não mais pelo peso do caminhão. 

Uma amiga pesquisadora chamada Priscila me perguntou se poderia analisar o morango da Korin para saber se ele tem realmente mais nutrientes. Arrumei duas caixinhas de morango para ela que foi ao mercado e comprou os morangos convencionais aleatoriamente. A pesquisa foi realizada e o morango da Korin tem 30% a mais de vitamina C.

A explicação foi a seguinte: como ele não recebe banhos de agrotóxicos ele não precisa utilizar a vitamina C própria para se defender do agroquímico. 

Sobra, portanto, essa vitamina para o ser humano e quando você incorpora sobra para a terra se recompor sem a necessidade de adubos, que é o princípio da agricultura natural de Mokiti Okada, na qual nos baseamos.

Comecei então a fazer uma comparação com a cana, de repente o ser humano estará consumindo cada vez mais fibra, mais massa e efetivamente ele está se tornando um obeso desnutrido, porque no final das contas o corpo quer e te faz comer cada vez mais. 

E não conseguimos achar nos alimentos os nutrientes adequados. Isso faz com que o ser humano entre num ciclo de busca de nutrição. 

Esse modelo atual de nutrição nos manda comer quatro vezes ao dia, ele nos manda fazer da base da nossa pirâmide alimentar o carboidrato.

Você já imaginou um ser humano de Neandertal ter que parar de correr atrás da caça porque teve uma tontura por não ter comido há três horas? 

Eu sou adepto da comida de verdade, e quando comecei a me alimentar sem industrializados como biscoito ou farinha processada ou quando comecei a me alimentar com industrializações primárias como hambúrguer, uma cenoura que virou picles, uma liofilização de um vegetal, algo onde você não modifica a estrutura do alimento, tudo mudou muito para mim. É diferente de comer uma bolacha enriquecida com vitamina C ou ferro, ácido fólico…

Quando passei a ser adepto da comida de verdade passei a comer de uma a duas vezes por dia. Normal para mim é fazer um jejum natural de 16 ou 18 horas.

Quando seu corpo se alimenta de nutrientes, de comida de verdade, ele não fica querendo comer o tempo todo, só com isso, em minha casa, sobrou bastante alimento.

É por isso que falo que não podemos falar de fome no mundo sem considerar três academias, sem três grandes ciências: a parte agrônoma, do método produtivo que preserva muito mais nutrientes do que volume quantitativo;

Da questão nutricional do ser humano que está totalmente invertida, onde você é orientado a comer quatro vezes por dia quando na verdade você não precisa mais que uma vez ao dia de alimento adequado, com o excesso, você busca muito mais.

Percebemos que mesmo as pessoas comendo quatro vezes por dia seguindo recomendações dessa nutrição atual, estão ficando obesas, 40% da população mundial é obesa. Então a comida está fazendo mal?

Comer demais está matando as pessoas e ninguém percebe porque isso está embasado nos ultraprocessados industriais que são as farinhas onde não se tem mais a farinha integral, se tem uma farinha que é carboidrato puro, é muito amido.

Além disso tem o açúcar presente em tudo, e tem algo que talvez seja um choque para muita gente que é o excesso de frutose, as pessoas tomam muito suco industrializado, só que a fibra do suco não está mais no produto final e então a frutose com os açúcares, mesmo os orgânicos e carbo simples que viram açúcar, nos dão hoje a máquina da fome.

Esse é um conceito de segurança alimentar;

Outro ponto é econômico, o de que um míssil que se lança no mundo tem milhões de dólares que virariam alimento para todo mundo, é uma concepção econômica, essa não é uma concepção de agricultura;

O Brasil tem uma pequena área usada para agricultura. Quando você casa essas três questões, fator econômico, o nutricional e agrícola da agricultura orgânica, não encontramos problema algum em alimentar nove, dez bilhões de pessoas daqui há 20 anos porque o que está errado é uma série de situações que precisam ser trazidas para aquilo que a Korin chama de DORI, Dori quer dizer  “caminho perfeito da natureza”.

É o caminho traçado para todos nós por Deus. Quando começamos a nos distanciar desse caminho aparecem essas doenças, esses desafios todos para que o ser humano retorne ao Dori. 

Conhecemos exemplos de pessoas que passam por problemas de saúde e acabam passando também por uma purificação. Essa pessoa volta dizendo comer melhor, fazer mais exercícios, tomar mais água, mudanças muito simples, mas que só chegam pela dor. 

Meishu Sama (o filósofo japonês Mokiti Okada – Tóquio 1882-1955) diz que, se é a crise que abre caminho para o progresso, ela deixa de ser crise, ela passa a ser um motivador de crescimento.

Tudo isso envolve vários setores da humanidade. Alimentar o mundo requer pelo menos essas três academias trabalhando juntas.”

Reginaldo Morikawa, CEO da Korin Agropecuária, Korin Franquia e Korin Messiânica Alimentos