A cultura florestal cada vez mais presente nas propriedades produtivas do Brasil – O trabalho da família “Futuro Florestal”, reflorestando o país

A cultura florestal cada vez mais presente nas propriedades produtivas do Brasil

O trabalho da família “Futuro Florestal”, reflorestando o país

por Kátia Bagnarelli

 

O plantio de florestas e agroflorestas nas fazendas dos irmãos Rodrigo, Eduardo e Valéria Ciriello começou em meados de 2003 e quando iniciaram, as fazendas eram produtivas, de café e pecuária.

O patriarca da família Pedro, foi o pioneiro quando precisou buscar novas alternativas financeiras para produção rural que ele já realizava desde a infância por ter nascido numa propriedade rural, os dois filhos mais novos, à época, Eduardo e Valéria estavam cursando agronomia.

A família já era da roça e os irmãos encontraram um grande desafio em produzir florestas com espécies novas. Após grande pesquisa técnica tiveram acesso às madeiras nobres tropicais. Naquela época houve uma certa tendência para que eles transformassem todas as áreas em florestas. Era um projeto desafiador por serem espécies nativas brasileiras pouco conhecidas mas muito exploradas na área natural em florestas nativas da Amazônia e da Mata Atlântica.

Em 15 anos de desenvolvimento criaram vários modelos tanto de agrofloresta como plantio homogêneo, plantio misto de nativas e exóticas alternativas, espécies que nunca haviam sido plantadas comercialmente. Começaram a plantar, foram se especializando e diversificando.

Atualmente em uma de suas fazendas em Garça/SP tem floresta plantada dos mais diversos modelos, SAFs com pupunha, com café, plantios de florestas com várias espécies misturadas e também plantios puros de mogno africano, de guanandi, de jequitibá, ipê felpudo, louro pardo, louro freijó.

Para viabilidade do projeto o trio é especialista em serviços desde a visita de análise de aptidão florestal, o projeto técnico florestal, ajudam a desenvolver os planos de negócios iniciais, as primeiras contas, fornecimento de mudas de qualidade e com procedência garantida.

Acompanham o corte de madeira, de desbastes e alguns até de corte final e inserem essa madeira do cliente no mercado. Atuam no trade e trabalham para trazer a árvore como uma amiga do produtor, mostrando a ele que esse tipo de negócio pode ser a aposentadoria do futuro.

Os produtores que plantam florestas nas APPs, introduzem árvores nos sistemas produtivos, trazem benefícios ambientais para toda a sua região.

Desde o pequeno produtor, da agricultura familiar, que pode trabalhar um sistema mais diverso, até o médio e grande produtor que podem ganhar escalas, diminuindo um pouco a diversidade e permanecendo com seus “carros chefes” de produção, que geram um grande impacto.

“O que me deixa extremamente emocionado quando eu chego aqui nas florestas que a gente plantou há 15 anos no decorrer de todo esse processo é ver que uma área que antes era degradada hoje é uma mata, uma floresta úmida onde você entra e se sente à vontade, se sente acolhido por essa floresta, você vê que as cachoeiras tiveram um aumento do volume de água e usamos boa parte dessa água para alimentar as nossas mudas. Se não tivéssemos recuperado essa natureza, a água que é um negócio tão importante para o ser humano não seria possível.

É importante olharmos para tudo isso não só financeiramente mas para a parte que temos na mudança de paradigma desse planeta. Às vezes a nossa parte vai atrair prosperidade muito maior do que imaginamos para nós mesmos porque a gratidão que isso gera da natureza é algo imensurável”, nos conta Rodrigo.

A seguir o depoimento dele na íntegra.

“Sempre muito focado nos investimentos, meu pai, ao longo da vida investiu muito em terras na região de Garça. Criava gado e produzia café e num dado momento tivemos acesso a uma espécie nativa do Brasil chamada guanandi e esta espécie tinha um potencial de trazer um faturamento cem vezes superior ao eucalipto que se planta muito no Brasil até hoje. Fomos investigar e decidimos em família plantar essa espécie nativa brasileira ameaçada de extinção com esse potencial.

Contratamos um profissional conhecido chamado Daniel Piotto que já estudava essa espécie para estruturar o projeto a fim de que pudéssemos plantar comercialmente, o que nunca havia sido feito. Nesta época o profissional nos orientou a não focar numa única espécie já que faríamos um trabalho pioneiro.

O objetivo era trazer um risco menor para o empreendimento. Começamos a testar paralelamente ao guanandi, mogno brasileiro (que é uma espécie historicamente valiosa e que foi uma das espécies mais exploradas da Amazônia até que em 200 foi proibida por ameaça de extinção), o jequitibá rosa, louro pardo, e fomos testando em menor escala com o “carro chefe” sendo o guanandi.

O primeiro projeto foi feito em 100 hectares.

Percebemos entretanto que não conseguimos consolidar uma espécie nova se não tivermos volume de produção. Em busca dessa escala começamos a desenvolver workshops nas universidades, envolvendo as academias, os institutos de pesquisas governamentais como a EMBRAPA Floresta e parcerias com termos de cooperação envolvendo mais produtores com este foco de investimento de florestas e sistemas agroflorestais.

A maior dificuldade foi a mudança de paradigma do produtor rural porque ele está acostumado a investir numa cultura que lhe proporciona rendas anuais de colheita num curto período de tempo. Estamos falando numa espécie aqui que demora de vinte a trinta anos para ficar pronta.

Além disso, apesar de ser uma espécie nativa do Brasil, nós não temos crédito bancário para este tipo de projeto ainda. A expectativa de faturamento por hectare é interessante e bem maior do que as culturas Brasil a cumprir as metas que foram estabelecidas no acordo de Paris para que o Brasil pudesse entregar aquilo que prometeu, 12 milhões de hectares de florestas até 2030.

Só se chegarmos a um denominador comum entre todos os atores desse processo é que nós conseguiremos ter um planeta para as próximas gerações e o Brasil é peça fundamental para isso porque temos a maior floresta tropical do planeta mas ao mesmo tempo temos também muitas áreas degradadas pelo homem.”

A empresa foi fundada em 2006 como subsidiária de serviços técnicos da Tropical Flora Reflorestadora, empresa pioneira no setor de madeiras tropicais, sendo concebida para fazer a gestão florestal das áreas produtivas da empresa e do viveiro florestal que atendia principalmente a demanda interna da empresa e de produtores terceiros, o que resultou também em demandas de serviços técnicos florestais e agroflorestais destes clientes.

Desde o início atua na produção florestal com qualidade, estabelecendo alianças estratégicas e parcerias tecnológicas com empresas e instituições de pesquisa nacionais e internacionais, planejando, orientando e executando estudos de campo, com o objetivo de produzir conhecimento para o sucesso na produção comercial de madeiras nobres tropicais.

O foco da Futuro Florestal é entregar suporte técnico para viabilizar e consolidar o setor de produção de madeira nobre tropical, oferecendo serviços e tecnologia florestal, fornecendo mudas e sementes de qualidade comprovada, onde é referência no setor florestal, assim como, produz e comercializa madeira, subprodutos florestais e agroflorestais de forma sustentável, com responsabilidade social, benefícios ao meio ambiente e viabilidade econômica.

“Cuidar do planeta de forma rentável, transformando paisagens degradadas e antropizadas em sistemas produtivos sustentáveis.”

Os irmãos Rodrigo, Eduardo e Valéria Ciriello, sócios na Futuro Florestal

 

 

“O viveiro é o berçário das florestas”

“O viveiro é o berçário das florestas e ele é uma fase muito importante, porque a muda tem que ser bem produzida, tem que ter qualidade superior. Uma muda de qualidade é 50% do sucesso porém, depois inserida no campo, ela precisa de um acompanhamento técnico para que seja bem plantada, bem conduzida, tenha irrigação necessária para se desenvolver”, explica Valéria que é responsável pelo viveiro na fazenda Enseada.

A Futuro Florestal produz mudas florestais nativas e exóticas para projetos que visam a produção de madeira nobre tropical, assim como para restauração de reserva legal (RL) e área de preservação permanente (APP), pensando nos mais diversos modelos de plantio, como plantios puros, mistos ou sistemas agroflorestais. As mudas são produzidas em tubetes, com substrato de excelente qualidade, enriquecidos com adubação de liberação lenta, livre de pragas e doenças e rustificadas á pleno sol, prontas para o plantio em campo.

Existem dois perfis principais, segundo Valéria de clientes da empresa. Produtores rurais e investidores, como médicos ou advogados que desejam investir compram uma fazenda e plantam madeira nobre. Produtores de cana e criadores de gado também procuram a empresa para iniciar o plantio de floresta.

“Se cuidamos da natureza ela vai nos retornar, se não cuidamos ela também vai nos retornar. Ela sempre vai evoluir para melhor e nós como seres humanos deveríamos fazer o mesmo.

Tenho tentado seguir os quatro compromissos da filosofia tolteca que dizem:

Seja impecável com sua palavra. Não leve nada para o lado pessoal. Não faça suposições. Sempre faça o melhor que puder.

Além disso precisamos tentar nos aproximar mais da natureza ainda que moremos em apartamento. A natureza sempre vai nos trazer benefícios se estiver presente em nossa vida.” Valéria Ciriello

À esquerda livro “Silvicultura Tropical” com particpação da Futuro Florestal, abaixo cachoeira, floresta e sede da Fazenda dos irmãos.

 

Fazenda Sol Nascente em Itacará, no sul da Bahia. A propriedade do casal Marcelo e Verena que tem como objetivo inserir a agrofloresta e área florestal acompanhando a produção de orgânicos.