A Floresta Amazônica como início, meio e elo que não chegará ao fim porque se tornou uma rede circular de conexões saudáveis

A cidade de Acará no Pará em plena Floresta Amazônica

A Floresta Amazônica como início, meio e elo que não chegará ao fim porque se tornou uma rede circular de conexões saudáveis

Filha de Acará, a ParaOil segue seu legado proporcionando o desenvolvimento da região

A Floresta Amazônica brasileira e os seus encantos preservados nos parece, de longe o nosso maior patrimônio verde. A maior floresta tropical do mundo em extensão abriga uma enorme diversidade de espécies animais e vegetais.

Entretanto é preciso se aproximar dela para compreender sua grandiosidade e importância ambiental, cultural, social e econômica.

O barco do jornal Onews ancorou na Floresta para contar a história da indústria ParaOil, uma empresa brasileira, localizada no município de Acará no Pará, especializada na extração de óleos e manteigas naturais a base de sementes extraídas da Floresta Amazônica.

A indústria fornece seus produtos para empresas do ramo cosmético e alimentício além de realizar um trabalho de desenvolvimento de empreendedores pelo Brasil.

Com forte influência da cultura Nipônica, a ParaOil é marcada pela garra e perseverança dos imigrantes japoneses, que na década de 40 a 60 vieram para a Amazônia sobreviver a um pós-guerra.

Desde então vivem em harmonia com os povos locais e com a Floresta.

Seu legado tem sido criar uma história de cooperação e desenvolvimento sustentável com os povos da Amazônia, divulgando e gerando valor para a riqueza dessa região.

Gilberto Nobumasa nasceu em 1988 e sempre foi criado pelos pais no interior agrícola de Acará, dentro da floresta. Os avós de Gilberto, japoneses, chegaram ao Brasil em 1957 pelo navio Brasil – Maru esperançosos em busca de uma vida próspera. Filho de Kaoru Nobumasa agricultor e de Edite Nobumasa, professora, Gilberto cresceu amparado pela preocupação da mãe dedicada a lhes entregar boa saúde e bons estudos.

Ele estudava em duas escolas simultaneamente, pois não tinha com quem ficar em casa quando criança, acompanhando a mãe que lecionava nos dois períodos.

Era uma meta de dona Edite que os filhos pudessem cursar o ensino médio em escolas melhores e de preferência na capital. Assim, ela se programou para comprar uma casa em Belém e deixar os filhos por lá morando e estudando. Gilberto se mudou aos 12 anos de idade.

Nas férias ele e os irmão retornavam ao interior para ajudar os pais na agricultura percorrendo um trajeto de barco que durava quatro horas. Foram educados para esse retorno a fim de valorizarem a história e o trabalho da família na agricultura, uma vez que o dinheiro proveniente deste trabalho era o que sustentava Gilberto e seus irmãos enquanto estavam na capital estudando em boas escolas particulares.

Gilberto sempre se destacou com boas notas nos estudos.

Desde criança conta que sentiu que apesar de estudar fora da cidade ele precisava fazer algo pela região e pela floresta. Algo que agregasse valor à comunidade.

Cursou engenharia mecânica, trabalhou numa mineradora e com extração de óleo de palma numa indústria multinacional em Acará, em seu retorno.

Seu pai é produtor de polpa de fruta do cupuaçu, maracujá e acerola.

“O cupuaçu é como se fosse o cacau, dentro você tem a semente e a polpa. O nosso processo é todo manual, é o que chamamos de “tesourada”.

A semente, que representa em torno de 60% do peso da fruta, antes virava adubo ou era jogada fora. Não havia um destino tão nobre para ela.

Começamos então a estudar as sementes, incluindo o caroço do açaí. Percebi nesses estudos o mercado viável para a manteiga do cupuaçu, que vem justamente do caroço da fruta. Na região de Acará o cupuaçu é abundantemente nativo. Toda família tem e muitas vezes no quintal de suas casas.

O costume sempre foi tirar a poupa estragando o caroço.

Detectei as interfaces, montei um plano de negócios proporcionando a partir dessa nova atividade de extração uma renda para as famílias da cidade.

Em 2018 juntei minhas economias, viajei para São Paulo em visitas de campo a empresas que fabricavam equipamentos para extração.

Os equipamentos que procurava precisavam servir ao dia a dia de nossa micro indústria.

O que encontrei foram equipamentos que serviam para horas de processamento e toneladas de matéria prima, proporções muito grandes para a realidade que estava construindo.

Investindo cem mil reais montei uma mini usina. Parte dos equipamentos foram comprados a partir da viagem e os demais como fornos para a produção, eu mesmo desenvolvi a partir de meus desenhos com ajuda da mão de obra local.

A partir daí criei a marca ParaOil que estava nascendo de forma pioneira e inovadora na região. Iniciei na sequência todos os testes de processamento e estrutura de vendas.

Como produto novo foi preciso conhecer e adequar tecnicamente a nossa produção em relação a, por exemplo, umidade adequada, o que só foi possível com novos e muitos estudos.

O processo de produção foi bem sucedido e em pequena escala, o que restringiu o processo comercial das manteigas e óleos.

Não poderíamos vender para grandes indústrias uma vez que a procura excedeu a quantidade extraída por nós.” A procura de outros nichos de mercado e em tempos de pandemia Gilberto usou a internet para divulgar sua produção e foi neste momento que encontrou a sua primeira cliente: uma empreendedora do Rio Grande do Sul, proprietária de uma marca de cosméticos naturais.

Ela queria comprar matéria prima direto do produtor e a parceria foi muito oportuna.

A partir dela, outros clientes com o mesmo perfil começaram a chegar e Gilberto direcionou sua estratégia de vendas para este nicho de mercado, o que ele chama de “cadeia integrada”.

O empresário Gilberto Nobumasa quem vem mudando a realidade da região

A cadeia integrada a que ele se refere trata-se da ligação com o pequeno produtor na Amazônia agregando valor às sementes extraídas por ele que antes seriam destinadas ao lixo, desenvolvendo num processo industrial dentro da ParaOil a matéria prima que ele comercializa para os empreendedores, majoritariamente mulheres, de todo o Brasil.

O processo que vem na sequência promovido por essas empreendedoras é semi artesanal de grande valor por serem matérias primas 100% naturais.

Os óleos que Gilberto comercializa são produzidos com prensagem a frio, sem nenhum tipo de aditivo. Os frutos são aquecidos no máximo a 60 graus, são prensados e deles extraídos o óleo de forma natural.

O cupuaçu naturalmente tem em torno de até 45% de óleo. A extração retira até 32% desse óleo.

O propósito da ParaOil se firmou naquele momento. Gilberto diz que a oportunidade de iniciar com uma cliente do Rio Grande do Sul, na ponta do Brasil, foi algo simbólico para a marca. Até mesmo a dificuldade em relação a logística foi uma oportunidade que surgiu de repente.

Enviada a primeira remessa por um amigo que viajava de férias para o sul a entrega foi concluída e Gilberto percebeu que a sua primeira cliente também poderia ser a sua primeira representante e distribuidora naquele Estado.

A matéria prima coletada diretamente da Floresta Amazônica é parte extrativista nativa e parte, vinda do reflorestamento agroflorestal onde num mesmo hectare são plantados vários tipos de árvores.

Gilberto destaca o plantio de andiroba que é uma árvore que durante muito tempo foi usada apenas para fazer sombra ao lado de cacau e açaí que tem um valor comercial já consolidado.

As sementes de andiroba caíam e ficavam pelo chão, sem aproveitamento. A partir do trabalho feito pela usina a região passou a comercializar as sementes de andiroba, reconhecendo também seu novo valor.

A comunidade se surpreendeu com a possibilidade e passou a coletar anualmente as sementes vendendo-as para Gilberto e complementando suas rendas familiares.

Atualmente a ParaOil está em processo de expansão na parceria com os agricultores, numa rotina de transferência de conhecimento, tecnologia e preparo das populações ribeirinhas. No período de entressafra eles dedicam o trabalho a divulgação e visitação a comunidade.

Gilberto apaixonadamente defende que é fundamental que a floresta fique de pé pois dela se extrai um produto altamente sustentável, que gera renda e desenvolvimento, ao mesmo tempo que os elos de confiança entre eles, agricultores extrativistas, usina e empreendedores pelo Brasil são formados gerando uma rede de conexões economicamente forte.

Os processos de aceleração A ParaOil está passando por dois processos de aceleração, um com o programa “Inova Amazônia” liderado pelo Sebrae e que é um programa para fortalecer a bioeconomia na Floresta e fomentar o crescimento econômico com inovação aberta, aliado à conservação ambiental, numa iniciativa que busca potencializar o empreendedorismo na Amazônia Legal, para promover o desenvolvimento territorial.

E outro com o programa “Jornada Amazônia”, uma iniciativa coordenada pela Fundação CERTI, que busca conectar e dinamizar os ecossistemas de inovação da região, gerando valor econômico para a floresta, por meio do empreendedorismo inovador sustentável.

Visando a profissionalização da região e uma gestão sustentável que sirva de modelo para outras iniciativas na Floresta, Gilberto trabalha dia a dia na busca de parcerias oportunas como a dos clientes que viraram seus distribuidores pelo país. Apaixonado também por inovação, ele nos conta que os vários conceitos para startup atualmente estão presentes no processo que enfrentou desde o nascimento da ParaOil.

Conscientização do consumidor As entregas da ParaOil para clientes acompanham uma semente relacionada ao produto que foi comprado para que os consumidores saibam de onde está originando aquela manteiga ou óleo.

A ParaOil já enviou seus produtos para o Japão, EUA e Austrália, o que é muito comemorado pelo empresário que diz que esses países recebem a matéria prima e também os sabonetes que são produtos finais elaborados por suas clientes no Brasil.

O objetivo da ParaOil é consolidar uma grande comunidade inovadora formada pelos agricultores familiares, pela usina e seus colaboradores, pelas empreendedoras e empreendedores por todo o Brasil fazendo com que a marca represente toda essa comunidade interativa e ativa pela preservação da Floresta Amazônica, democratizando o acesso também para as comunidades mais vulneráveis do país.

Um exemplo dessa comunidade que se beneficia da Floresta está num episódio ocorrido também no Rio Grande do Sul onde uma cliente comprou o óleo de andiroba que é um anestésico, hidratante e anti inflamatório natural e presenteou a avó com alguns problemas de dores e ressecamento da pele promovendo em uma semana redução dessas dores e hidratação profunda.

Assim como o óleo de graviola que auxilia no tratamento de dermatite.

Os depoimentos dos clientes do Gilberto são guardados por ele com muito carinho e atenção pois demonstram o poder de cura e aplicação bem sucedidas por quem mais precisa dessas soluções.

Gilberto segue investindo em tecnologia para escalar sua distribuição, garantindo o comércio justo que é um dos pilares da marca. Ele garante que o objetivo é fazer com que ao menos 30% da renda de todo o processo fique com o pequeno agricultor que traz a fonte de energia para tudo funcionar.

Gestão horizontal é o outro pilar de valor que Gilberto enfatiza, ele busca entregar liberdade para o operador de máquinas e demais colaboradores para que tenham o mesmo poder de decisão em determinadas situações na usina, contrariando o modelo tradicional vertical de gestão.

A influência e inspiração para cultivar tais valores vêm dos avós, Takayuki e Matsue Nobumasa, e de seus pais, Kaoru e Edite. O símbolo da ParaOil representa para ele essa chegada dos avós vindos do Japão em busca de crescimento disseminando algo bom nas terras brasileiras.

Gilberto aprendeu com o avô que o ser humano é uma árvore, precisa trabalhar com a raiz forte.

O jovem no amparo de seus pais está fortalecendo suas raízes e essa é uma fase muito importante para a família.

Uma árvore que tem uma raiz forte, depois que floresce cria um tronco muito forte também com galhos e frutos saudáveis.

Para eles uma pessoa que não tem uma raiz forte, tem até um tronco forte, mas na primeira tempestade e no primeiro desafio, cai.

Eles alimentam a raiz sempre ensinando uns aos outros sobre o poder da observação contínua da natureza.

Gilberto nos explica que na atualidade o papel mais relevante de um CEO é se aproximar da relação com seus clientes e saber formar uma liderança ao seu lado capacitada a atender tecnicamente cada necessidade do mercado de forma humana.

Os colaboradores atuais de Gilberto são jovens locais, que recebem além dos direitos de contrato de trabalho, um curso técnico financiado pela empresa.

“Os orgânicos são um caminho sem volta. Nós somos o que consumimos, o que comemos. As doenças que chegam são a soma desse processo.

Somos um pote, e vamos enchendo esse pote, a escolha é nossa, podemos encher com algo maléfico ou benéfico. Os orgânicos são algo que devemos voltar a fazer bem.

A natureza já nos mostrou que há consequências.

As mulheres que são nossas parceiras e clientes prezam pelo que é natural e orgânico”, enfatiza o empreendedor.

A seguir, a mãe de Gilberto, num depoimento emocionante.

Dona Edite, professora, agricultora, e atual empreendedora fornecedora da ParaOil

“Sempre fui produtora e professora, desde muito nova.

Meu pai também era agricultor, nós migramos do nordeste para o norte, fomos atraídos pelo auge da pimenta do reino, durante aquela propaganda em 75 que dizia que a pimenta era o ouro negro do Pará.

Como minha família era muito grande, éramos 10 filhos, morávamos no interior do interior sem escola e sem estrada.

Viemos para o Pará em 1975. Com 10 anos de idade dei continuidade precariamente aos estudos e em 85 quando tinha 21 anos, conheci meu esposo, um imigrante japonês. Nos casamos. Foi um choque de cultura mas o amor falou mais alto.

Desta união vieram os filhos. Continuamos na agricultura mas naquele momento não era terra própria, era dos nossos pais e pensamos em comprar nossas próprias terras.

Em um ano e meio desta união compramos uma área. Começamos a produzir pimenta do reino e outras frutas como o cupuaçu.

Pensamos que viver apenas da monocultura seria difícil para sobreviver como uma família. Então diversificamos. Era um dos nossos objetivos formar nossos filhos com uma visão macro, mais ampla do que a nossa. Quando eu era menina tinha o campo como punição.

Se não estudasse iria trabalhar no campo. Mais tarde começamos a entender que não era isso, o campo também precisa de doutores e na visão macro eles teriam um diferencial com uma vida com mais dignidade e com uma outra forma de sobrevivência.

A outra geração teria mais oportunidades do que nós tivemos, fiz faculdade muito tarde, depois de 9 anos de casada é que tive essa oportunidade.

Entretanto sabíamos que mesmo entregando uma melhor oportunidade a eles, dependeria da força de cada um seguir. Como diz o ditado, não podemos dar aos filhos o peixe pronto e sim ensiná-los a pescar.

No período em que Gilberto estava estudando nós trabalhávamos na agricultura das frutas para poder pagar colégio e faculdade na capital.

Eu e meu esposo saíamos cedo, ele ia para o campo e eu ministrar aulas. Tivemos essa oportunidade, muitos não tem nem isso.

Para mim é um sonho Gilberto entregar a oportunidade que ele entrega para outros fazerem parte disso, sendo parceiros, produzindo, somando suas ideias para que juntos possamos caminhar mais e mais.

Cada ano é um renovar, e esse é um renovar de esperança e essa esperança tem que estar em cada um de nós, não podemos perdê-la. O sonho nós trazemos.

Eles se concretizam dependendo do esforço de cada um de nós. Devemos acreditar e fazer valer essa força que está dentro de nós como mulher, como mãe, como educadora, como agricultora. Sempre acreditei no potencial do Gilberto. Vou contar uma historinha dele de quando pequeno.

Ele ia para a escola no período de alfabetização comigo, como eu era professora eu o levava, deixava na sala e de vez em quando olhava o que ele estava fazendo. Gilberto sempre se sentou no banco da frente e pensava sobre o que estava acontecendo.

Descobri anos depois uma miopia. Ele nunca me deu trabalho, em casa dormíamos no beliche, ele na parte de cima, logo que chegava da escola começava a fazer as atividades, havia dias que pedia minha ajuda.

Ele desenhava só barcos e eu ficava querendo interpretar aqueles desenhos. Hoje vejo as respostas, ele seria engenheiro mecânico.

Durante um período da minha profissão, já na segunda escola que ministrava, alguns agricultores não tinham a responsabilidade de incentivar o filho a estudar.

Éramos nós como educadores que tínhamos que ir até suas casas fazer a matrícula, conhecer onde moravam e aquele conhecer para nós era muito bom pois ficavam muito felizes com a nossa visita, se sentiam valorizados.

Não tínhamos transporte naquela época, usamos bicicleta ou andamos a pé até a escola. Vejo atualmente um empobrecimento na questão cultural entre gerações.

Me lembro que ia para a casa da minha avó e ela colocava aquele couro de boi no chão, sentávamos ali para almoçar. Dormia na rede próxima a dela.

A dificuldade e a riqueza de conhecimento ao mesmo tempo. Quando ministro aula sempre digo aos meus alunos que devem conhecer de tudo um pouco e não se pautar apenas na matéria, pelo conteúdo da matéria, mas vivenciar. Sempre contava a história do Gilberto, dizia que ele estudou ali assim como meus alunos estavam estudando e ele conseguiu passar na faculdade pública, conseguiu bolsa de estudos.

No período de dificuldade para pagar o colégio de Gilberto foi quando começamos a colher a polpa de fruta do cupuaçu. Pensei, o que fazer?

Meu pai ainda estava conosco e disse: Vamos levar para Belém! Meu pai então saia pelas ruas oferecendo a polpa. Na medida que foi aumentando a procura, começamos a utilizar os freezers em casa, a venda ia para ajudar a pagar transporte, alimentação e o colégio. A venda foi aumentando e chegamos num período a comercializar até 50 toneladas ao ano, hoje a nossa produção é pequena, mas naquela época foi muito grande e nós ainda nem aproveitamos a semente, ela era desperdiçada.

Observamos esse desperdício e não sabíamos onde e como vender, não havia um mercado. Minha mãe neste período já tirava o óleo da semente mas era em pequena escala apenas para utilizar como remédio nos ferimentos da família. Ali descobrimos as propriedades do óleo.

Perderam todo o investimento na era Collor – Brasil 1990 Outro fato que nos marcou muito foi quando em 1990 logo após ter tido meu filho caçula, com 15 dias após o nascimento dele meu esposo precisou ir ao Japão pois enfrentamos no Brasil uma crise econômica muito grande, foi na época do Collor, na primeira vez que abrimos uma conta no banco e vendemos nossa polpa, aplicamos o dinheiro.

Veio então o momento em que Collor prendeu o nosso dinheiro na poupança, ficamos sem capital, sem produto para vender. Tínhamos pimenta plantada mas não era época da colheita e meu esposo por ser descendente tinha a oportunidade de ir ao Japão trabalhar.

Ele resolveu ir ao Japão para poder segurar a entressafra porque se ele ficasse aqui teríamos que vender a produção antes de colher e isso seria um atraso muito grande economicamente e geraria situações que não sei se daria para recuperar. Aquele foi um momento muito complicado para nós, pelo fato dele ter que ir e eu ficar com uma criança recém nascida sem dinheiro.

Meu cunhado estava chegando do Japão e nos emprestou um pouco de dinheiro que usei para continuar trabalhando, mas era tudo muito regrado, o dinheiro só dava para pagar a mão de obra para limpar a plantação até o período da colheita.

O aniversário do Gilberto então chegou em 16 de julho e de costume em todos os aniversários eu fazia um bolinho para reunir a família e cantar parabéns, mas nesse ano não pude fazer isso, não tinham nenhum centavo para comprar o material, tudo muito distante, moramos a três quilômetros da comunidade mais próxima. Fiquei triste em não poder fazer esse bolinho para ele.

Meu esposo conseguiu ficar no Japão apenas quatro meses e nesse período escrevia cartas de quinze em quinze dias com notícias.

Cada carta que chegava era um momento de emoção, de choro, por ele dizer que não queria mais voltar para o Japão para trabalhar e sim para passear porque aqui ele era patrão e lá ele era pião, era humilhado devido ao trabalho, as pessoas não acreditavam que ele tinha terras e plantações no Brasil por estar lá trabalhando como boia fria. Isso foi algo que tivemos que superar.

Hoje em 2022 podemos ver esse resultado. A renda por aqui aumentou, a cultura foi diversificada e isso tem a ver com a ParaOil porque ela se sustenta através dessa ideia de sustentabilidade e diversidade que implantamos.

Os óleos vêm dali. Um dos meus sonhos é ver a ParaOil reconhecida no mundo inteiro, estamos caminhando para isso. É um sonho que aos poucos está sendo concretizado.

Ouvimos desde pequenos que nunca devemos deixar para amanhã o que você pode fazer hoje, precisamos correr atrás dos sonhos enquanto somos jovens e temos saúde, sem enfraquecer a garra que trazemos dentro de cada um de nós. Essa força é como uma árvore que vai sendo irrigada, adubada, se fortalecendo através da família.”

Os avós de Gilberto, Katayuki Nobumasa e Matsue Nobumasa durante estada no Japão

Os parceiros ParaOil, uma rede de conexões por dentro e além da Floresta

Luiz Otavio Nobumasa, o sr. Mikó

@mitsurunobumasa

“Nasci aqui em Acará, e quando terminei os estudos fui para Manaus trabalhar.

De Manaus fui para o Japão.

Voltei há sete anos e estou iniciando a agricultura aqui no município de Acará.

Meus pais eram agricultores e eu fui para o Japão para ver se conseguiria um dinheiro para comprar um terreno aqui e começar a plantar no Brasil.

Estamos plantando cacau e açaí. Todos os dias é um conhecimento novo que adquirimos, pensamos que sabemos de tudo mas no final não sabemos de nada.

Todo dia um aprendizado.

O manejo da plantação de cacau é o que fica mais complicado. Tem que podar e adubar. Quanto ao açaí, por ser nativo fica mais simples.

Como o cacau tem mercado, nós não fornecemos em grande quantidade, mas a semente do cupuaçu era um produto desperdiçado, não tinha nenhum valor para os pequenos agricultores, com a chegada da ParaOil que extrai a manteiga do cupuaçu, está sendo uma renda extra para nós. Todos os produtores estão contentes com suas rendas maiores pelo aproveitamento do que era jogado fora.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os pioneiros da imigração japonesa no município fundaram a associação dos agricultores e a sede tem 41 anos de fundação.

Os fundadores em sua maioria não são mais vivos, era apenas uma Associação Cultural Japonesa mas com o passar do tempo e a crise econômica desde os anos 90, muitos japoneses desistiram daqui e migraram para outros locais.

Transformamos a Entidade em Associação Agrícola e estamos tentando recuperar o tempo perdido.

Não tínhamos muito espaço apenas sendo cultural, acrescentamos o fomento agrícola pois 100% dos sócios são agricultores. O nosso assunto hoje na sede matriz foi falar sobre a pandemia que durante dois anos nos impossibilitou de fazer atividades. Sem atividades não temos renda.

Essa renda deveria cobrir as nossas despesas e como não tivemos precisamos discutir novas formas de acesso a recursos.

Daqui a sete anos vamos comemorar os 100 anos de imigração japonesa na Amazônia. Precisamos comemorar. Políticas públicas Acho que falta incentivo.

O prefeito atual assumiu o cargo neste ano de pandemia e está tentando fazer o melhor sobre a agricultura, mas no momento ainda não chegou aqui.

Os recursos estão fracos. Nós, pequenos agricultores, não podemos ficar dependentes da política pública, fazemos por nós mesmos.

Claro, se tiver incentivo nos ajudará bastante no futuro. A nossa Associação está sempre apoiando e incentivando os cursos do SENAR.

Plantar o produtor sabe, com incentivo do SENAR pouco a pouco estamos chegando num patamar de alta produtividade.

Minha mensagem é sobre a oportunidade que a ParaOil está nos dando como empresa pequena, que começou a pouco tempo seu trabalho, gerando renda para nós.

Principalmente aos extrativistas, que são os ribeirinhos. A distribuição da matéria prima deles é muito precária ainda.

Com a ParaOil, ao invés de derrubar árvores para extrair madeira, pega -se o fruto para fazer produtos. Incentivando assim o reflorestamento do que já foi perdido.”

Sr. Mikó é produtor agrícola familiar e diretor presidente da Associação Cultura e Fomento Agrícola Nipo-Brasileira do Acará.

Imagens da sede da Associação desde sua fundação

 

Imagens da sede da Associação atual reformada

 

 

 

 

 

 

Karla Dal Alba da Alba Terra saboaria

@saboaria_alba_terra

“Tenho 40 anos, sou casada e tenho duas filhas, de 10 e 4 anos. Sou formada em química e fiquei por onze anos trabalhando com petróleo petroquímico.

Há anos venho pensando em algumas mudanças.

Quando nasceu minha segunda filha senti pela segunda vez um sinal e disse: Opa, tem alguma coisa me chamando aí!

Uma amiga me incentivou, por eu ser formada em química e ter conhecimento na área da pesquisa, ela me instigou a trabalhar com cosméticos naturais.

Até ali eu nunca tinha usado e comecei então a testar várias marcas destes cosméticos naturais. Testando e me adaptando, pensando no que eu queria e no que não queria. Algumas marcas que conheci eram de boa qualidade e outras não.

Comecei então a desenvolver cosméticos em casa a partir da compra da matéria prima.

Ainda tinha renda fixa, pois estava empregada e fui investindo em material e matéria prima, promovendo os meus testes. Fui me organizando e depois de 8 meses vi que gostei do que estava fazendo.

Pedi então o desligamento da empresa num processo que foi bem difícil para mim, confesso. Entretanto fiz pelo meu propósito, para ter mais tempo e qualidade de vida ao lado de minhas filhas, apesar de já ter tido uma experiência de trabalhar em casa pois minha rotina mesmo antes da pandemia era em home office.

Senti que aquele trabalho não era mais para mim, e todo desligamento é um processo difícil, traz muito medo e muita insegurança.

Meu marido me apoiou e consegui estar aqui agora. Comecei então a vender para amigos e família para perceber se gostavam e se a qualidade dos produtos atendia.

Fui recebendo feedbacks positivos e resolvi abrir uma conta no instagram, formalizando.

Karla Dal Alba Fotografia: @mollerfotografia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A marca se chama Alba Terra, tem tudo a ver comigo e tem um grande propósito. Nesse caminho conheci a ParaOil de alguma forma e Gilberto me atendeu pessoalmente.

Esse é o diferencial da ParaOil, o atendimento é muito bom. Conversei com ele e disse que queria um quilo de cada manteiga, uma quantidade pequena por ser ainda pequena empreendedora.

E ele disse para não me preocupar porque o foco da ParaOil é vender para os pequenos empreendedores.

Testei a manteiga de cupuaçu e a aprovei em meus sabonetes, inclusive substitui a karitê que eu já usava e que não é brasileira.

Gostei tanto que liguei para Gilberto e disse que se ele precisasse de uma representação no Rio Grande do Sul poderia me procurar. ]

Passaram-se dois meses e continuei comprando dele até que ele me pediu ajuda para distribuir as manteigas como eu havia lhe oferecido.

Surgiu ali uma parceria que permanece até hoje, sou representante da ParaOil aqui no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. E cada vez que comercializo as manteigas da indústria só recebo bons feedbacks.

Faço cosméticos em geral, sabonetes, shampoo e condicionador em barra, mousses corporais, argila para o rosto, escalda pés, bombinhas efervescentes, uma linha bem variada.

Aprendi muito sobre sustentabilidade neste último ano, estudando cosmetologia.

Sempre senti em mim, formada em química sem nunca ter atuado na área ambiental, que precisava contribuir com o local onde moro.

E quando você começa, acaba chegando num ponto bem interessante que é o conhecimento sobre as agroflorestas.

Venho de uma família de agricultores que plantam soja e milho, hoje tenho uma visão diferente ao olhar aquelas monoculturas em relação a quanta coisa foi derrubada para plantar a soja transgênica.

E ao mesmo tempo, venho da indústria do petróleo.

Precisei quebrar vários paradigmas em minha cabeça para reconhecer que esse sistema que o Gilberto trabalha é lindo.

Não precisamos derrubar nada para produzir e dar trabalho para as pessoas.

O trabalho que ele faz com os ribeirinhos na extração de óleo de coco, pessoas estas que têm baixa renda, que trabalham manualmente, é um trabalho muito bonito.

Falar de Amazônia para mim hoje é falar de agrofloresta, é dizer que existe como trabalharmos de maneira justa com a terra onde vivemos, não preciso desmatar milhares de hectares para plantar determinada árvore porque eu não preciso usá-la se for assim, posso usar o cupuaçu, o murumuru, a copaíba, o cacau.

Acredito que durante a pandemia as pessoas começaram a olhar melhor para tudo isso, sou um exemplo. A pandemia nos fez enxergar que levamos a vida num consumismo desnecessário.

A natureza nos dá muita coisa, basta olharmos para ela da forma correta.

Precisamos buscar pelo natural.

Quando você começa a trabalhar com algo só pelo dinheiro a tendência é desistir quando as coisas dão errado, mas se você tem um propósito e acredita naquilo concluindo que aquilo é bom para o mundo, e é bom para as pessoas, você não desiste.

Esse é o meu recado porque é isso que funciona.”

Os produtos da Alba Terra. Fotografia: @mollerfotografia

 

 

 

 

 

 

Amanda Bimbatti, Economista Regenerativa e Cosmetóloga Natural

@rotinaorganica

“Me formei em economia, tinha o sonho de faculdade de trabalhar num banco de investimentos. Me formei em Minas, vim para São Paulo, passei nos programas de trainee e entrei num banco de investimentos para trabalhar na tesouraria, setor de investimentos e bolsa.

Nos primeiros três meses esse sonho começou a me mostrar que a realidade não é igual ao que sonhei de fato. Comecei a perceber que aquele ambiente era um ambiente que me desgastou bastante, tirando muito da minha energia, passando por situações que eram muito desconfortáveis para mim, tinha que estar todos os dias ali me provando e provando minha capacidade principalmente por ser mulher.

As situações começaram a me tirar a ideia de que queria isso para o resto da minha vida.

Como uma válvula de escape para esta realidade que eu estava vivendo em São Paulo e que não estava me fazendo bem comecei a me envolver com cursos na área da beleza.

Beleza convencional foi por onde comecei, estudando tudo da área de estética.

Comecei a dar aulas de maquiagem aos finais de semana, resolvi fazer uma segunda faculdade.

Minha segunda graduação de estética e cosmética com ênfase em maquiagem, após a área financeira me fez ter mais contatos com mulheres, numa rotina corrida, com muitos produtos sobre minha pele, em práticas diárias de procedimentos sobre a pele.

Com o processo desencadeou-se uma alergia muito forte e tive um problema de acne severa. Minha pele ficou num estado que nunca tinha visto antes.

Procurei uma dermatologista e ela me explicou que as coisas não acontecem como estão sendo explicadas em relação aos cosméticos, o que usamos em nossa pele é absorvido pela corrente sanguínea desencadeando todo um processo prejudicial.

Fui atrás de compreender então o que eu estava aprendendo, pois estava numa área que, em minha cabeça, me fazia bem e fazia bem para outras mulheres, mas na verdade isso não era a realidade e estava me machucando.

Tentei inúmeros processos para curar minha pele mas não tive resultados.

Por tamanha exposição ao tratamento comecei a desencadear doenças ginecológicas.

Parei então de tomar remédios e passei a usar um óleo essencial que me acompanha muito até hoje, a melaleuca. Segui com os estudos e aprendi então, na faculdade, a formular cosméticos e a partir deles comecei a procurar alternativas que não me machucasse e não machucasse outras mulheres.

Meu primeiro contato com a cosmetologia natural começou neste momento. Abri mão de um empreendedorismo que tanto queria por dificuldades financeiras e voltei a dar aulas.

Ensino outras mulheres pela internet a fazer os próprios cosméticos em casa. Já que eu não conseguia oferecer estes produtos prontos, ofereço conhecimento para que elas consigam optar entre fazer ou comprar.

Foi a melhor maneira que encontrei de atuar. Além da cosmetologia natural comecei a procurar entender como meu corpo funciona física, emocional e energeticamente, fiz cursos de autoconhecimento também.

Me aprofundando no estudo da Teoria U criei minha metodologia chamada Teoria Única, onde unimos a Teoria U com o Sagrado Feminino.

A metodologia gerou então dois produtos, um curso e uma mentoria.

Tenho ainda meu programa de autocuidado natural onde ensino as mulheres a fazer a cosmetologia e muito mais do que isso pois falamos sobre aromaterapia, chakras, ginecologia natural envolvendo a parte energética, espiritual e física.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ainda neste período iniciei o Oráculo das Deusas Brasileiras, para que nós como representação feminina da Mãe Natureza, nos reconheçamos em arquétipos e presenças brasileiras.

Esse contato com a nossa história e com a nossa raiz é muito importante.

O Oráculo traz 25 Deusas Brasileiras e suas histórias, significado da energia de cada carta que pode ser tirada uma por dia. Ao lado da leitura está uma sugestão de autocuidado baseado na energia de cada uma delas.

A Paroil fornece as manteigas e os óleos vegetais que são cultivados de maneira agroecológica que está em sintonia com a natureza, que é super puro, não tem nenhum processo químico envolvido, aquele produto tem todas as propriedades da planta.

Está rico em natureza.

Quando usamos, por exemplo, o óleo de copaíba da ParaOil que é um óleo resina, é maravilhoso, conhecido pelos povos da floresta como um médico da floresta.

Veja a potência desse óleo, ele consegue auxiliar desde a dor de garganta até a acne.

O conhecimento do que tem dentro do potinho destas joias lhe dá a autonomia de saber se precisa misturá-lo com algum outro produto ou não. Isso é ter a liberdade de cuidar do nosso corpo.

Quando misturar, como misturar, se queremos fazer ou se queremos comprar, somos nós quem decidimos.” (durante a entrevista Amanda vez ou outra cheirava uma ramo de gerânio plantado por ela)

Deusa Yebá Beló e uma das páginas do oráculo das Deusas Brasileiras

 

 

 

 

 

 

Carla Gomes Vieira, Terapeuta Capilar

@poderdoscrespos_carla

“Nasci no bairro onde moro, tenho 40 anos de idade, sou casada e tenho um filho de 9 anos chamado Adriano. Concluí apenas o segundo grau do ensino médio, durante todo o período de estudos meus pais nunca me deixaram trabalhar, apenas estudar.

Comecei a trabalhar com cabelos quando uma prima, Simone, me pediu para ajudá-la em seu salão. Hoje ela se formou advogada.

Eu corria dela, era muito nova e não queria trabalhar ali. Queríamos ir para a praia ao invés de trabalhar, mas ela sempre conseguia me levar para o salão.

Quando não estava ajudando minha prima, trabalhava com decoração e limpeza geral nas lojas de decoração, até que em 2012 a gerente de uma dessas lojas pediu demissão e a assistente dela também.

O diretor então me convidou a assumir o lugar dela na administração, mas eu nunca havia trabalhado nesta área, embora tivesse dito a ele que tinha domínio de todo o trabalho da gerente por acompanhá-la no dia a dia. Eu não poderia perder aquela oportunidade.

Consegui então o trabalho que era da gerente. Logo depois engravidei e quando meu filho faria um aninho pedi para sair. Minha mãe trabalhava e eu não tinha ninguém que pudesse cuidar dele.

Ele estava crescendo e sendo cuidado por, a cada dia, uma pessoa diferente.

Usei meus recursos financeiros para fazer meu primeiro curso de cabeleireira. Fiz o curso e aproveitei para criar o meu filho. A princípio atendia a domicílio, depois abri um salão.

Cortava cabelo fiado, passava o sábado trabalhando sem receber um real para pagar depois, às vezes vinham me pagar e não pagavam, tudo me desencantou.

Vendi então tudo o que tinha no salão e fui trabalhar na rua. Fiz muitas faxinas até conseguir trabalho num call center. Enquanto estava neste trabalho, todas as pessoas que já haviam feito cabelo comigo me incentivaram a voltar a atendê-las. Eu não queria mais voltar, mas algumas clientes não desistiram de mim, eu não tinha produto e material para fazer o serviço mas as clientes arrumavam uma tesoura.

Eu queria sair da área de beleza mas a área de beleza nunca saia de mim.

Voltei a estudar tudo sobre cabelos crespos, que é diferente de cabelos cacheados. Descobri a terapia capilar e me apaixonei por ela, usando produtos veganos e naturais. Decidi então voltar a trabalhar com cabelos quando o seguro desemprego do call center estava acabando.

Olhei para minha varanda de casa e pensei em montar um salão ali mesmo.

Conversei com meu filho e ele me incentivou.

Improvisei tudo na varanda. Mesmo morando de aluguel sem poder mexer na estrutura da casa, adaptei o espaço pequeno para lavatório e cadeira, usando minha fruteira como carrinho de apoio.

Uma professora renomada me ajudou a fazer um novo curso custeado da forma que eu pudesse pagar. Na sequência fiz uma especialização em tricologia e cosmetologia para entender um pouco mais sobre os produtos. Ao mesmo tempo em que estava realizada sentia medo pela Covid19.

Chegou um momento em que não consegui atender na parte da tarde devido ao clima muito quente de Salvador.

A varanda ficou inviável. Percebi que as meninas de cabelo crespo querem alisar por não saber lidar com eles. Descobri com pesquisa, estudando e lendo que os óleos e manteigas ajudam no tratamento dos crespos.

Decidi focar, quando pesquisei não encontrei nada. Não encontrei estudos e fui testando em meus próprios cabelos. Não há nenhum produto que use em minhas clientes que eu não tenha usado em mim antes. Foi aí que descobri Gilberto na ParaOil, pelas redes sociais.

Quando vi os óleos e as manteigas prensadas a frio achei uma mina de ouro.

Quando li que vinham da Amazônia, quase não acreditei. Pensei: a Amazônia é longe, e fiquei triste.

Chamei Gilberto no direct, ele atencioso como sempre. Conversamos e contei toda a minha história.

Ele me perguntou quanto eu tinha para investir e respondi triste que não tinha nada no momento.

Ele de repente me propôs enviar as manteigas e eu pagá-lo a princípio apenas com a postagem.

Eu chorei emocionada. Ele nem me conhecia, me enviou um material sem saber quem eu era. Isa, Hugo e Gilberto são pessoas que acreditam muito em mim. Amo minha profissão, sou apaixonada pelo que faço.

Quando recebi as manteigas fiquei muito emocionada novamente porque deu super certo. Foi um xeque mate.

Qualquer crespo em meu salão não sai mais com cabelo ressecado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quem tem cabelo crespo normalmente é super ressecado, sendo muito difícil dar um resultado de primeira num cabelo desses.

As clientes não sabem como cuidar, não sabem o que usar, usam produtos errados, sem resultado.

Quando essa manteiga chegou fiz o experimento com cupuaçu e andiroba. Juntei as manteigas e os óleos com a minha técnica e tive o resultado esperado por todos.

Estou no bairro periférico de Salvador chamado Santa Cruz e a região é muito grande. Meu salão fica na ladeira e preciso melhorar a divulgação.

Dizer que sou especializada em crespo, que trabalho com produtos naturais vindos direto da Amazônia. Você precisa trabalhar com produtos bons para ver o resultado lá na frente.

Minhas técnicas quem cria sou eu com meus estudos.

A manteiga de cacau dele é chocolate puro, uma beleza. Não encontramos aqui esses produtos e quando encontramos é muito caro sem sabermos qual é a procedência.

O meu salão é reciclado porque não tem nada novo exceto o espelho. Lavatório, cadeira, carrinho de apoio, tudo veio em doação. Minha geladeira é uma caixa de isopor.

Esforço, dedicação, responsabilidade e paixão E que assim como eu, que todos não desistam nunca. Tenha fé em Deus. Agradeça sempre a Deus por mais ruim que tenha sido o dia.

É amadurecimento e aprendizado. Tenho certeza de que tudo de bom que está acontecendo comigo é pelo agradecimento que tenho e sempre tive em todos os momentos.

Não desista, confie em Deus e sempre agradeça em todos os momentos de sua vida.”

Carla no salão que tem mantido com o resultado do trabalho em Salvador

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Gilberto finaliza a matéria engajando a todos.

“Acreditem na Floresta. Não pensem nela simplesmente como uma flor ou um jardim bonito. A floresta é um ponto de esperança não somente para o Brasil, mas para o mundo. Nascemos falando da Amazônia de capa de revista, mas ela não está no nosso dia a dia.

Pensem nela internalizando a crença no que realmente temos. E como fazemos isso?

Buscando a origem das coisas, de onde vem, como é feito, valorizando o pequeno agricultor.

Isso é o mínimo que podemos fazer para valorizar toda essa cadeia, pois esse trabalho é um grande sistema interligado.

Tudo está conectado.

Uma vez conectei um produtor a uma cliente e vi o brilho nos olhos daquele produtor imaginando que o produto dele está chegando no Sul e em São Paulo, na mesa do consumidor.

Muitas vezes quando esse produtor vende para um atravessador ele não fica sabendo para onde foi o seu trabalho. Ele se sente altamente valorizado com esse contato.

O extrativista é um guardião e esse guardião não precisa estar de arco e flecha, ele precisa de tecnologia também.

Precisa de wifi, de zoneamento, e essa é uma forma de cuidar da Floresta.

Precisamos buscar conhecer um pouco mais da Amazônia.

Muita gente não tem oportunidade de conhecê-la.

A Floresta Amazônica faz uma conexão com a periferia do Brasil. Não podemos então ver a floresta como um simples jardim, como algo apenas bonito. É ela que vai tirar o Brasil da lama.

O Japão investiu em tecnologia e nós vamos investir em biotecnologia.

Há muito pouco estudo sobre os nossos óleos. Imagine se investíssemos mais?”

 

Sr. Kaoru na época em que precisou se mudar para o Japão para recuperar o dinheiro perdido
Sr. Kaoru no retorno ao Brasil cuidando da plantação
A família de Gilberto sempre se manteve unida pela agricultura

A ancestralidade de Gilberto mantém vivos os seus valores
Gilberto e Mikó ao lado de produtores ribeirinhos na Amazônia, Gilberto com Pedro ao colo , sua esposa Sandy Stefany e o mais novo integrante da ParaOil, João que nasceu ao fim dessa reportagem

“Costumo dar como exemplo de desvalorização do agricultor a cadeia do cacau existente hoje. O pequeno agricultor fica com de 3% a 5 % do valor gerado na comercialização da barra de chocolate, por exemplo, como produto final. Existe uma charge muito forte exemplificando, onde o filho de um agricultor olha pela vitrine na cidade grande uma barra de chocolate que ele não pode comprar. Afinal, o que é o preço justo? O preço é justo quando o agricultor tem capacidade de comprar o produto final que o seu trabalho originou. Como fundador da ParaOil, trabalho para que o que estamos construindo não se perca ao longo do tempo, apesar de ser um mercado ainda promissor. Que as futuras gerações tenham isso claro.” Gilberto Nobumasa, CEO da ParaOil

“O que nós temos como ferramenta para propagar a nossa produção e os nossos produtos é mostrar o processo desde a plantação, passando pela extração até o processamento em nossa indústria.”

Gilberto Nobumasa, CEO e fundador da ParaOil